terça-feira, 28 de junho de 2011

PIPOQUINHA, PIPOQUINHA..PIPOQUEIA...TODO MUNDO PIPOCANDO...



Já dizia o grande Raul Seixas: "Eu prefiro ser, essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo".

Na verdade, falar sobre os corredores pipocas, piratas, bandidos, furões, penetras, ou seja lá qual o nome que se dá aqueles que se enfiam no meio de uma prova sem pagar, não é uma das tarefas mais fáceis, muito pelo contrário..cada blog que a gente segue, cada vez que o assunto é posto em discussão, a coisa incendeia..uns a favor, outros contra.

Vou ser sinceríssima. Já tive várias opiniões sobre o assunto, mas não me envergonho, aliás, nenhum pouquinho de dizer que mais uma vez mudei de opiñião, até porque só os idiotas não mudam de opinião...

Nunca participei de uma prova como pipoca. Mas nunca participei, não por ser contra, mas porque nunca teve uma prova que eu quisesse muito e não tivesse como pagar e que se eu não corresse seria o fim do mundo. Acho que é bem por aí. A pergunta que eu faço é: Por que você está correndo de pipoca? Várias seriam as respostas:

a) Queria muito participar e não tinha dinheiro;
b) Achei a inscrição muito cara e me neguei a pagar porque seria sacanagem gastar todo esse dinheiro;
c) Eu nunca pago inscrição para correr;
d) eu tava correndo ali perto e decidí entrar no meio;
e) a rua é pública e eu corro aonde eu quiser...

Tá..eu podia ficar aqui o dia inteiro elencando os motivos que levam alguém a correr sem pagar inscrição. Admito. Já fui a favor, invocando o direito de ir e vir e que todos tem o direito de correr onde bem entenderem, desde que respeitando o direito dos outros naquela velha história..o seu direito temrina onde começa o meu. Passei um bom tempo levantando essa bandeira, e jogando a culpa em cima dos organizadores que cobravam valores altíssimos para as inscrições, dignos de elite, sendo certo que quem realmente garantia a prova era mesmo o povão. Também achava que não tinha problema nenhum, desde que você se limitasse a fazer o que foi fazer: correr. Nada de copinho de água, nada de passar pelo pórtico de chegada, nada de nada...só correr.

Todavia, porém, entretanto...volto a dizer...não tenho vergonha de mudar de opinião, fazendo algumas ressalvas. Hoje, cerca de 10% dos corredores em uma prova, são pipocas. A gente pode até achar que não é nada. Sim, numa prova de 100 pessoas...onde 10% seriam 10. Mas já pensou numa São Silvestre? 20.000 pessoas? 2.000 estão ali... por que mesmo?????

Tá bom...aí a gente vem com todo esse papinho de advogado (eu sou)... e o direito de ir e vir? E a Constituição Brasileira? Ok. O direito de ir e vir e a Constituição Brasileira permanecem como sempre onde sempre ficaram. O que eu quero dizer é que é uma grande bobagem a gente dizer que fere o direito d eir e vir, sendo certo que há muito mais coisas envolvidas numa prova, do que meros 10.000 metros.

Tomar a água de quem pagou, correr no espaço de quem pagou, entrar no pórtico de quem pagou, atrapalhar o resultado de quem pagou, usufruir de serviços (médico, staff, organizadores entre outros) de quem pagou e ainda assim achar que pode invocar a Constituição Federal enchendo a boca pra falar do direito de ir e vir? Dá pra ir e vir em outro lugar pelo menos naquele dia?

Todo mundo sabe que um dos meus grandes sonhos é organizar uma corrida. Talvez esse sonho nunca se realize devido á grande burocracia que envolve toda a criação de um evento como a corrida. Isso custa caro. Não se limita a copinhos de gatorade. Vai além. Vai desde o aluguel de alambrados ao pagamento de seguro...vai desde a taxa para a CBAT até a distribuição de mexirica e tudo isso desembolsado por corredores que muitas vezes nem tinham lá muitas condições de pagar, porém fizeram um esforcinho para tá ali sem ofender direito de ninguém.

Não dá também pra gente ficar colocando a culpa em cima dos valores das inscrições. Sim, acho que muitas provas estão mesmo muito caras e digo mais, a maioria nem tem oferecido o devido respeito aos corredores, não prestando o essencial...banheiros químicos suficientes, água suficiente, posto médico, um kit legal, uma medalha decente, porém não é por isso que temos que nos enfiar lá no meião batendo no peito cheio de orgulho que "Não pago memo"...Como eu disse, pensem em 2.000 pessoas a mais num evento?

Certa vez numa prova de São Vicente, quando fazia a volta dos 5km, ví que a água não seria suficiente para quem estivesse lá atrás. Meu pai era uma dessas pessoas no meio há tantos senhores e senhoras que completariam a prova acima de 1 hora num calor bravo. Sabe o que eu fiz? Mesmo com sede, passei reto do posto de água. Talvez minha atitude não tivesse mudado muita coisa, porém talvez aquele copo que não foi meu, tivesse sobrado para algum senhor desidratado. Agora imaginem 2000 pessoas tomando água... Não me venha com essa de que os corredores pipocas não tomam água...claro que tomam. E é óbvio que nenhum staff negaria água a um corredor mesmo sabendo que ele está ali sem pagar. Isso nem iria contra a Constuição...rs...iria contra a Bíblia....rsrsrs...

Ok...o cara não bebe água..é um pipoca que corre a seco. Tá. Agora, imagine um corredor que pagou pela sua inscrição. Aquela é a prova da sua vida. É aquela que ele quer ver dali há  alguns anos como a que lhe proporcionou o recorde pessoal. Treinou duro. 2000 pessoas além. 4000 pernas a mais lhe atrapalham...4000 braços batendo d eum lado para o outro. Não acho que atrapalhar os outros seja um direito, muito pelo contrário...

A gente sabe que corredor ama correr. A gente sabe que corredor acha bonito correr e estar no meio da corrida, mas a gente também sabe que nem sempre a gente consegue fazer tudo que a gente gostaria de fazer. Como os pais que explicam ao filho que não se pode comer pipoca, churros e Mc lanche Feliz. Ou uma coisa ou outra. E se não temos dinheiro para o Mc lanche feliz que optemos pela pipoca que é mais barata. Assim é com a corrida. Quem disse que a gente tem que correr todas as provas de todos os lugares? Isso tá na Constituição? Ok.. se a inscrição tá cara. Não corra. Se a prova é perto da sua casa, vá aplaudir. Se a rua é pública, respeite o que é do público. Acho que é um grande começo..aliás, uma grande reflexão.

O problema é que vivemos num país de gente mau educada e seguidora da teoria que Brasileiro tem sempre que levar vantagem em tudo. Não tem não. Tá na hora da gente ser conhecido como um povo educado, que respeita o outro, que sabe o limite entre o seu direito e o direito do cara do lado. Não é tudo a mesma coisa. Não é porque ele tá ali que você também pode estar. Talvez vá além da educação e como cada vez mais usado no direito...é questão de bom senso.

Pense nisso!

5 comentários:

Leo Mesquita disse...

Decididamente o pipoca é um ladrão! Sou totalmente contra! Mas tem crimes piores do que este ocorrendo nas provas, falsidade ideológica é o mais comum hoje em dia! Abcs e boas corridas!

Daniel disse...

Oi Luciane,

Você sintetizou tudo o que eu penso a respeito dos corredores "pipocas".
Nem precisarei complementar a opinião que manifestei no seu post anterior. Só não tenho o conhecimento jurídico, universo esse que você trafega tranquilamente e com conhecimento de causa. Não gosto de ficar comparando situações que envolva cultura, idioma e rotinas diferentes, mas se estivéssemos na Europa certamente não teríamos necessidade de discutir o assunto em tela.

Abraço

Daniel Gonçalves
www.fanaticospormaratonas.blogspot.com
twitter @danielrunning

Marcus,Realengo disse...

Oi LUciane, eu acho que vc foi no ponto fundamental no seu último parágrafo: o povo brasileiro é mal educado. Queria saber se tem alguma pesquisa sobre "pipocas" em corridas nos EUA e Europa e aí faríamos uma comparação. Um abraço e bons treinos. Em tempo: quando é sua próxima competição?

Anônimo disse...

vc organizando corridas???meu Deus nos livrai disso...ninguém merece!

Maria Sem Frio Nem Casa disse...

Portugal, Europa... números não sei mas... a mentalidade é a mesma... (se calhar é da língua ...rsrsrs)

É óbvio que usufruir de toda uma máquina organizativa - que é o que fazem os que se infiltram na prova - sem pagar é ... roubo, abuso, desrespeito, e por aí fora. O alegado "direito" acaba quando começa o da Organização que gastou para criar condições aos atletas participantes e o dos atletas pagantes que não terão as mesmas condições. O "atleta-penetra" dificulta controlo, classificação, gasta abastecimentos (pode até não gastar) mas só ocupar a via que foi destinada para a corrida nesse dia já é um abuso! Nesse dia não pode não! Tal como o trânsito nas provas com trânsito cortado, nesse dia a sua liberdade de circular ali... acabou...

constituição, leis... é tudo muito bonito, mas nada se faz e se muda enquanto a mentalidade não mudar... e essa ...é muiiiiito difícil