SE CHOREI OU SE SORRI..O IMPORTANTE É QUE EMOÇÕES EU VIVI...
31 de dezembro. 13:30hs...Lá fomos nós rumo à realização de um grande sonho...A São Silvestre. Diferentemente das outras provas onde a maior preocupação era com o tempo, dessa vez a maior preocupação era se iria ou não dar tempo de voltar para Santos a tempo de brindar o Reveillon com a família. No entanto o sonho era tão grande, a vontade de realizá-lo era tão imensa que logo que pegamos a estrada esquecí de tudo e só imaginei como seria estar no meio da minha 1a São Silvestre.
A estrada estava suuper tranquilinha. Optamos por deixar o carro num estacionamento que fica ao lado do metrô...acho que foi a melhor coisa que fizemos....
Tudo era motivo pra foto...Nem o fato de estar correndo a 1a São Silvestre da minha vida lesionada me tirava a felicidade.

No metrô a farra foi boa...rs...Era corredor pra tudo quanto era lado. Alguns se gabavam dos tempos que fizeram em provas anteriores e tetavam aterrorizar falando sobre a temida Brigadeiro Luiz Antônio. Eu, Manú e Clayton entramos no clima...começamos a blefar com a banca...rs..."Acho que vou fazer pra 58"...diziam Clayton..."Ah, eu tô pensando em 0:1:03 alto"...imendava eu...rs...Ah, tá bom...até parece.. nem eu nem ele faríamos esses tempos, mas também duvidava que a Brigadeiro fosse tão horrível como o cara bombadinho estava tentando convencer que fosse.
É bem verdade que passei todos esses anos assistindo a São Silvestre pela televisão e imaginando quão difícil seria a subida da Brigadeiro, mas com certeza a GLOBO teve uma grande participação no sentido de aumentar a dificuldade da coisa...
E essa foto? Acho que nem tem explicação... Talvez um momento bizarro...mas na São Silvestre pode tudo né???? Deêm um desconto...rs...
Chegando na Paulista, poucas pessoas circulavam...Poucas levando em consideração o mar de gente que se esperava. Pra mim, tudo era novidade, até porque nunca havia estado na Paulista.A decoração era linda, a organização era impecável...

Manú e eu fomos procurar amigos e conhecidos. Logo de cara demos de cara com a Reem. Cheguei dizendo: "Aposto que você não sabe quem sou....!" Juro por Deus que pensei que ela levaria pelo menos 1 minuto analisando o meu rosto, mas não...na hora ela disse: "Lucyyyyyyyyyy....do Just Run!...Lindinha, lindinha..." E me apertava....rs...

Bom, quem não conhece a Reen? Ela inclusive já apareceu numa matéria para o Esporte Espetacular falando sobre a corrida e o amor pelo Brasil e pelo seu país de origem: Palestina. E o sotaquezinho dela...um charme...rs...

Logo após a foto, ela nos pegou pela mão e nos levou a um outro grupo de corredores....e eu que nem gosto de conhecer gente nova, caí logo no Loucos por Corrida...Uma mulher chegou logo se apresentando como a dona do grupo e dizendo: "Somos tudo louco mesmo, mas não tem porque se preocupar, logo ali tem um caminhão cheinho de camisas de força e gardenal...."kkkkkkkkkkkk.... eu estava amando tudo aquilo...rs...Muito mais do que estar ali, era conhecer tanta ente com a mesma paixão pelo esporte...isso era contagiante!
Depois cada um escreveu uma mensagem e assinou na faixa...Desejei um ótimo feliz 2010 a todos...é o que queremos não é mesmo????
Comecei a procurar todas as figuras engraçadas que eu só via pela televisão. Eu parecia criança, juro por Deus...ninguém me daria mais do que 10 anos...rs...Quando vi o Michael Jackson, achei o máximo, tirando o fato de na frente da bicicleta ser um túmulo, na parte de trás era o Neverland (Terra do nunca) com direito a roda gigante e tudo. Claro que tive que fazer uma pose de Michel...tipo, bem da mais ou menos...rs...

Então continuei a procura e avistei o Pelé. Não, em que pese toda a minha aversão ao Rei (sim, detesto o Pelé) não resistí em tirar um foto com o sósia, até porque todos os anos o cara tá lá. Em seguida, chega o sósia do Ronaldinho Gaúcho. Quando eu disse ao Pelé que era de Santos, ele começou a pular e gritar...rs...e agora??? falar o que nessa hora???? rs...Entrei no clima e comecei: lelelele leleô.. lelelelel eleleô....rs....


Eu nem ia tirar foto com esse senhorzinho, mas ao ver na placa que ele segurava Feliz 2010, com a roupa que ele usava e o calor que ele fazia, decidí tirar a foto, até para guardar de recordação, caso ele não conseguisse chegar ao ano de 2010. Gente...correr de terno...merece medalha de Honra ao Mérito!...tá louco...
E....meio que contrariada, uma fotinho segurando a bandeira do Santos. Pelo amor de Deus, amigos, sou Palmeirense roxa... não penso e nunca pensarei em virar a casaca...foi apenas uma foto simbólica mostrando de onde somos...apenas isso...
Era hora de ir para a largada. A intenção era mesmo largar com a turma do fundão...lá pra placa de ritmo 5:30...tava bom demais...eu não queria forçar mesmo...estava lesionada e mesmo que não estivesse, queria curtir cada quilômetro...sem afobamento...
Rezei, pedí a Deus para que tudo desse certo a todos ali. Aproveitei que faltavam 20 minutos pra largada e perguntei para um corredor que estava na minha frente sobre o tênis Creation 10 da mizuno. Eu estou numa dúvida cruel entre ele e o Nimbus 11...Apesar dele me dizer que o Tênis era ótimo, ainda fiquei na dúvida já que apesar do vendedor me dizer que o creation é pra pisada supinada, o cara me disse que era pra neutra....aff...
Contagem regressiva. Meu coração batia tão forte. Nunca sentí isso durante uma prova. Manú me orientou sobre onde estariam as câmeras...rs....eu queria aparecer...rs....na Grobuuuuu.....rs.....
Lá fomos nós...Assim que a prova começou comecei a correr chorando (tenho que dizer que mesmo escrevendo, já estou chorando de novo, só de lembrar). O que foi aquilo minha gente? Quanta emoção. Não tinha empurra empurra. Tinha gente querendo aproveitar aquela prova como se fosse a última da vida.. só isso. No km 2, o tumulto melhorou. Olhei no relógio... 11:40....kkkkkkkk... Quando eu faria esse tempo em provas normais? Estaria lá com 8:50....no máximo....mas não tão feliz como eu estava.
Cada curva que eu fazia, eu chorava mais ainda. E digo mais, não fiz a menor questão de chorar bonito não...era choro de boca torta mesmo...como jamais imaginei que pudesse fazer.
Só achei que demorou um pouco para chegar o primeiro posto de água. Acho que foi lá pelo 4,5km. Como estava bem quente, prejudicou. No entanto, a fartura de água durante todo o resto do percurso foi impressionante. E podioa escolher.. água natural ou gelada... Eu sempre pegava dois copos. Um jogava na cabeça e outro bebia um pouco, deixando o resto para perto do próximo posto.
Na altura do km 6, os dois joelhos omeçaram a doer. Mas e daí? O que era aquela dor, perto de toda contentação que eu estava sentindo? Era incrível. Eu poderia passar a tarde inteira aqui tentando explicar a sensação que eu sentia, mas tenho certeza que não conseguiria. É preciso estar lá pra sentir....
No km 10, abri o meu gel. Achei engraçado que passei por alguns guardas e um deles disse pro outro: " Vixe, ela pifou!"....kkkkkkkk acho que ele achou que era alguma coisa como bombinha de ar...rs....Depois do gel, parecia que eu estava zerada. Assumi o ritmo 5:30....e comecei a me polpar para a Brigadeiro. Todo mundo vinha comentando: " Polpe para a Brigadeiro...Pessoal cuidado com a Brigadeiro..."Eu comecei a ficar assustada, mas ao mesmo tempo com uma vontade imensa de chegar logo e ver qual era a da Brigadeiro. Km 13... lá estava ela...linda, longa...pronta para ser engolida...Respirei fundo, olhei para um grupo de corredor ao lado e gritei: "Vamo lá pessoal, vamo ver quem manda nessa merda". Eles riram, e vieram atrás. Apertei o passo, queria sentir o que era a talzinha. Dois corredores foram ultrapassados por mim: "Que isso? Me dá um pouco dessa disposição, desse pique, tá louco, subir assim a Brigadeiro." Eu apenas sorri. Ali era a hora de provar quem era bom mesmo.
Brigadeiro bom era o de panela, pensava. Aquele ali era ótimo. Subia, ssubia, sem sentir nada. Absolutamente nada. As palmas recebidas, as crianças pedindo para que batessemos em suas mãos, o pessoal gritando pelo seu nome (estava no numeral) me dava um gás...Nem parecia uma subida. E naquela hora eu lamentava que tivesse que parar pelos próximos 10 dias para me curar da lesão. Eu estava muito bem condicionada pra subir daquele jeito, ou tomada pela maior emoção do mundo....sei lá...
Quando enfim cheguei ao topo e irei na Paulista: "ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh" foi tudo que consegui dizer... Beijei, beijei, beijei o meu escapulário, chorei, chorei, chorei....e continuei até o final, chorando como criança e agradecendo a Deus por eu poder estar ali. Não tinha preço...eu podia continuar por mais 15 quilômetros, pode apostar....mas tinha acabado...Foi exatamente 0:1:26 de pura alegria...Como veêm, não é só a competição em sí que te dá prazer... correr também pra brincar, pra curtir, também te oferece a oportunidade de se feliz.
Fiquei alguns minutos parada olhando aquilo ali tudo e com uma sensação de bem estar... Dale endorfina...rs.....e chocolate é coisa do passado....Eu queria pegar logo a minha medalha e confesso, não me decepcionei nem um pouco: a mais linda de todas que eu tenho....e olha que são umas 70. Linda, linda, linda.
Olha aí, os três felizes da vida. Uma felicidade que desejo a todos vocês. Não dá pra morrer sem correr a São Silvestre. Não dá pra morrer sem sentir o que aquilo tudo. Simples assim, não dá. E eu que jurei para o meu marido que seria a primeira e última vez que correria essa prova, pois só queria experimentar, quebrei a promessa assim que pisei na Paulista. Seria impossível cumprir isso. Não seria justo me polpar de toda essa felicidade todos os anos. Ano que vem eu volto e se Deus quiser, meu marido vai junto e meu pai também.
Assim que pisamos no estacionamento de volta, São Pedro deu o ar de sua graça. Chove tudo, lava a alma, mas deixa essa sensação boa comigo pra sempre...porque como diria o Rei...Roberto Carlos
"SE CHOREI OU SE SORRI, O IMPORTANTE É QUE EMOÇÕES EU VIVI"