quinta-feira, 19 de março de 2009

CORRIDA X SOFRIMENTO



A hístória é sempre a mesma. Alguém me pergunta quantos quilômetros eu corro, eu respondo que depende, às vezes 10k, 15k, 21k e então o que vejo são olhos arregalados acompanhados da seguinte frase: "Nossa, você gosta de sofrer hen?".

Ontem à noite eu estava folheando a 5a edição da Revista Runner´s World e parei na matéria sobre a Corrida de Comrade.

Eu já tinha ouvido alguma coisa por alto, mas nunca tinha me aprofundado ou pelo menos lido com certa curiosidade sobre o assunto.

Para quem não sabe, A Comrade é uma prova de 89km, que acontece na África do Sul. Nos anos ímpares a Comrade é "em descida", saindo de Pietermaritzburg (650 m de altitude) e chegando em Durban, ao nível do mar. Mas isso é só forma de expressão, porque o percurso é cheio de subidas e descidas, e o declive no terço final nem dá para notar. Nos anos pares a distância é encurtada para 87 km, no sentido inverso.

Não é qualquer pessoa que pode corrê-la não, já que é necessário ter corrido uma maratona oficial no ano que antecede a Comrades, para poder se inscrever. Depois, na prova, os participantes têm tempos-limite para passar em determinados pontos do percurso, caso contrário são desclassificados. Essa postura visa impedir que corredores se "arrastem" pela parte final da ultramaratona, sem conseguir terminar. Além disso, a Comrades tem que ser completada até o relógio marcar 11:59:59. Se a pessoa chegar com 12 horas ou mais não recebe a tão sonhada medalha de participação, que são de 5 tipos, a depender do tempo que se completa.

Aí, eu mesma, e sem ter que esboçar qualquer cara de espanto ou olhos arregalados, me perguntei em voz baixa? " Caracas, nem a pau".....será que correr significa sofrer?"

Eu sempre digo aqui que nada do que eu digo é lei, mas sim, uma opinião de quem simplesmente ama correr. No entanto, fiquei meio, como posso dizer...inconformada com a vontade e capacidade de sofrimento que as pessoas adquirem conforme vão correndo e aumentando suas metas.

Eu jamais participaria da Comrades. E digo isso sem nenhum medo de me arrepender e morder a língua mais tarde por um desejo ímpeto de querer chegar aos 11:59:59 na linha de chegada e ganhar a tão sonhada medalha dessa prova.

Para mim...e aqui volto a dizer, esporte é saúde, é sentir-se bem, é correr sei lá... 30km debaixo de sol, tomar uma ducha e estar totalmente recomposto para enfrentar o dia de trabalho, a casa, o marido, os filhos e todos os problemas que enfrentamos ao longo de um dia.

Não entendo que sofrer esteja intimamente ligado á prática da corrida.

Sempre tive metas estabelecidas. Sei bem como treinar, quanto treinar e como enfrentar o dia de prova. Sei o meu ritmo, sei quando vou quebrar, sei quando estou forçando demais... isso se sabe com o tempo...isso se sabe quando se conhece o corpo, quando se respita os limites.

E nessa prova, a Comrade, não vejo nada de saudável, além de pessoas subindo e descendo, sacrificando todas as articulações existentes no corpo, esbaforidas, tentando vencer a dor do modo mais cruel....sentindo-a e aguentando-a por uma medalha... Óbvio... aí, alguns dizem.. mas não estamos falando d equalwuer meldalha, mas sim..."A MEDALHA".. o reconhecimento de que você é mesmo um grande corredor.

Eu me considero uma grande corredora. Mesmo nunca tendo corrido uma Maratona, já participei de 6 Meias, e pelo menos umas 40 de 10km e outras distâncias. Sofri em algumas, sim...mas não sacrifiquei meu corpo. É bem verdade que quem corre a Comrade está preparado, ou pelo menos, deveria, mas o que vi nas fotos, eram pessoas jogadas literalmente no chão, na linha de chegada, tendo uma síncope nervosa....Isso não é pra mim...não mesmo.

Gosto de sentir a vibração do povo me olhando na chegada, dar um arranque final, conseguir esboçar nem que seja um sorrisinho torto, mas ainda assim chegar "totalmente excelente"...rs.. Isso é o esporte.. é saúde...é vida...não sacrifício....é a minha opinião.

Aqui em Santos, acontece todo ano no mês de maio, os 10km A TRIBUNA FM. É como se fosse uma São Silvestre...mais de 15.000 pessoas...aqueles que já correm queremndo diminuir suas marcas pessoais, aqueles que nunca correram, caminham e arriscam uma corridinha no final. Uma prova bonita de se ver e participar. Eu mesma já participo há 8 anos seguidos. Em determinado trecho, onde dá para sentir o arrepio subindo...ouvimos o hino de Airton Senna (na época em que ele cruzava a linha de chegada), colocada por um senhor em sua casa. Todo ano ele faz isso. E todo mundo já sabe...

No ano retrasado presenciei uma cena que me deixou meio mau...aliás, 2 cenas. Após eu terminar a prova, voltei para o alambrado a fim de esperar alguém conhecido passar e gritar.. vaaaaaaaaaaaaaaaaaaiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii....rs...



O que eu vi, foi um senhor de porte atlético sendo garregado por 2 atletas até a linha de chegada. seu estado era deplorável...cada um segurava-o por uma das pernas e ele quase desmaiado. Logo ao lado, na grama, uma mulher jogada, cercada por vários curiosos (tirei uma foto dessa cena, mas não sei onde foi parar) e a ambulância pedindo passagem. Uma moça cega (também competidora) que estava ao meu lado fez a mesma pergunta que eu (só que ela em voz alta).. "Pra que isso?" E no final das contas, a medalha era a mesma para todo mundo...só que a minha tinha um gostinho mais saboroso, já que cheguei feliz, sorridente, bem...sem ter que ser carregada ou qualquer coisa do tipo...

Mais uma vez tenho que dizer.. não crucifico aqueles que amam associar corrida à dor, aqueles que dizem que a dor é temporária e que ao longo da prova, tudo passa...mas também não posso deixar de expressar que acho isso o fim da picada...Não acho bonito e acima de tudo, não acho saudável...e partindo da premissa de que o esporte é algo saudável....então...
De toda forma, seja como for, corram, se divirtam, cuidem do corpo, cuidem da mente...cuidem-se!!!!!!!!!!!!!!!!!!


8 comentários:

Cris Folgar disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Jorge Cerqueira disse...

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Luciane, boa noite querida amiga, muito bom esse tema aqui no seu blog, olha a corrida se torna um sofrimento pq muitas pessoas pensam que é simples calçar um tênis e sair por aí correndo, daí principalmente as mulheres e homens que tem dinheiro e que frequentam academias não treinam muito e penam quando aprece um solzinho na corrida, pois aí tem que sofrer mesmo, pois só querem treinar na esteira da academia ou então acordam cedo ou correm só anoite para não pegar sol daí não aguentam não é mesmo. Se os corredores se conscientizarem e treinar disciplinadamente e principalmente no sol, eles conseguirão fazer uma boa corrida. Vejo também muita gente sofrendo nas corridas os corredores não tem consciências quanto a isso. Isso é uma coisa muito séria, bom a COMRADES é uma corrida muito sacrificante e muitos não entendem e as fotos que vc viram na revistas o pessoal sofrendo, se um corredor passa mal na corrida ele pensa que é um SUPER HOMEM e continua a correr daí dá no que dá né corredor morrendo, corredor passando mal, sofrendo....
AAAhhhh que eu me lembre eu ano passado eu te enviei o filme em dvd da LONGA CORRIDA que retrata a COMRADES e durante o percurso vc ve vários corredores sofrendo, vc me disse que colocou o dvd para rodar e o seu dvd não leu eu lhe disse para vc ve em outro dvd e caso não rodasse que era para vc me falar qeu eu te mandaria outra cópia, mais vc não falou nada e daí deixei para lá.
Corredores vamos se conscientiza!!!

Luciane postei uma matéria no meu blog falando sobre a mulher corredora grávida e citei o seu nome lá, de uma passada lá e deixe sua msg, pois a sua contribuição lá pode ajudar outras mulheres que estão grávidas e tem receio de correr.

Bons treinos,

JORGE CERQUEIRA
www.jmaratona.blogspot.com

joaquim adelino disse...

Olá amiga Lucianie.
Muito interessante a sua postagem, e devo dizer que tal como você, é assim também que eu me revejo na corrida. Se fosse à uns anos atrás eu iria também atrás destas aventuras, e é por isso que admiro quem já atingiu esse patamar e se mantém por lá, sim porque depois de chegar lá basta ir fazendo umas Konradezitas para ir mantendo o vício. Provas com as limitações de tempo que esta tem eu não aconselharia a ninguém sem experiência por ser muito perigoso.
Uma Maratona já dá muito que pensar...
Um abraço.

Mayumi disse...

Pois é, Luciane, o limite de cada um é diferente. Como você disse, para alguns correr 10, 15, 18 ou 21 km parece ser coisa de louco. Mas, para outros como nós, não é. Assim, correr 80, 100, 217 km, pode ser coisa de louco para uns e pode ser a coisa mais excitante para outros! Logicamente, terá que ter um preparo muito especial para isto, mas não acho que seja impossível. Porém, que é para poucos, ah, isto é sim! E acho que não é para mim, não! Rsrsrs. Mas, conheço gente que já correu estas distâncias! Acho que é questão de treinar, tanto o corpo quanto a mente! Admiro as pesoas que conseguiram fazer isto sem sofrer tanto! Bons treinos!

Paulinho Stone disse...

Oi Lucy, fiquei meio sem ter o que falar depois do post...
Sabe, também conheço meus limites, apesar de ainda não ter muita experiência em corridas de rua, sei se vou quebrar ou não, mas achot tão gostoso tentar superar os meus próprios limites, tentar superar a dor e principalmente os adversários, já perdi as contas de quantas vezes sonhei que ganhava uma prova, claro que isso é praticamente impossível de acontecer... mas acho que toda tentativa de quebra de recorde e de limites é válida..

Treino - Respeitar sempre o CORPO.
Prova - Superar limites.

Assim que eu enchergo..

Até mais!!
Abração!

www.paulinhostone.blogspot.com

Fernando Andrade. disse...

Interessante este tema, mas nunca a corrida deve estar associada a sofrimento.
Ninguém conseguirá superar os seus limites se não os procurar primeiro. Essa procura deve ser fonte de prazer. Penso que não existe mais "sofrimento" numa prova de 100km feita com treino adequado e em equilíbrio físico e psíquico, que numa prova de 3000m feita no limite das nossas capacidades. O perigo não está na distância, mas em querer fazer o que não foi preparado.
Dosear o esforço e saber "ouvir" os sinais que o corpo nos dá enquanto corre, é o grande segredo.
A Comrades, em minha opinião, tem apenas um contra, que é o limite de tempo. Isso poderá obrigar a que muitos, vendo que a margem é curta, exagerem no esforço para não ser em vão todo o esforço feito até aí.
Sou dos que pensa que quem gosta de correr, gosta de correr muito tempo. Não vejo lógica quando se diz que correr distâncias até à Meia Maratona proporciona prazer, a partir daí, é sofrimento.
Repito, a busca dos limites é inerente à própria natureza. Isso dá prazer. Cada vez que se aceita um desafio e se consegue superá-lo, faz-nos subir para um patamar superior das nossas conquistas.
Infelizmente existem casos trágicos, que não deverão servir de exemplo. O pior dos exemplos é o deixar de "explorar novos terrenos" só porque alguém se deu mal nessa procura.
Peço desculpa por me ter alongado.
Abraço

FA

Gentil Jorge Alves Junior disse...

Lucy,
Vou ser o contraponto negativo..rs
Já fiz os 89 km da Comrades, te digo que não sofri. Tem fotos no meu Orkut, da pra ver lá, fiz me divertindo, curtindo. Fechei em 10 horas, sem levar meu corpo ao extremo.
Já fiz provas de 75 km, de 150 km, de 217 km. Tive alguns problemas somente em uma prova (as 24 hs dos Fuzileiros) mesmo assim porque entrei num protocolo de pesquisa "furado"...:-)
Sou um dos 80 ultras no mundo que irá para a Badwater (217 km no vale da morte, na Califórnia, 58 graus, 2 dias para terminar). Voce esta coberta de razão quando alerta para os riscos. O que vejo é muita gente que se empolga e quer pular etapas, fazer o que esta acima de suas capacidades. Meus treinos são duros, tenho acompanhamento nutricional, endocrinológico, cardiologico, ortopédico, fisioterápico e ate psicológico. Vejo gente morrendo nas provas curtas. É necessário mesmo uma consciência maior.
Parabens pelo post
Gentil Jorge Alves jr
www.ultramaratonista.com

tutta disse...

Já li muito a respeito da Conrades na Revista Contra Relógio. Inclusive o editor, Tomáz Lourenço, já participou duas vezes desta prova (2007/2008) e ele sempre terminou bem.
Eu se pudesse, concerteza um dia teria vontade de participard esta prova, mas como ganho salário mínino, isso fica praticamente impossível.
Mas tiro o chapéu pra quem corre uma ultra-maratona.
Valeu Lucy.
Bjinhus paranaenses!

...tutta...
ubiratã-pr.
www.correndocorridas.blogspot.com