quarta-feira, 11 de junho de 2008


Poluição pode “ajudar” Marilson em Pequim, avalia técnico


Um dos temas mais polêmicos nas Olimpíadas de Pequim, os altos índices de poluição irão prejudicar a todos os corredores de longa distância, correto? Nem tanto, dependendo do ponto de vista. O problema que tira o sono dos organizadores chineses pode ser revertido em algo positivo para o Brasil, especialmente para Marilson Gomes do Santos. De acordo com o técnico do atleta, Adauto Domingues, as condições desfavoráveis da capital chinesa podem minar o desempenho dos africanos, maiores candidatos à medalha de ouro.
Vou ser sincero: em uma prova em condições normais naquele percurso, o Marilson não ganha destes caras. Agora, no contexto que teremos lá, a proporção de queda de desempenho dele pode ser menor do que a dos outros e é aí que a gente entra com chances. Não será uma prova como as outras maratonas”, comentou o treinador, se referindo ao fato de seu comandado ser um
atleta com características de volume, não de velocidade. Além da poluição, a China apresenta grande umidade e deve ter calor no mês de agosto. A estimativa é que junção destes fatores aumentará o tempo de campeão em aproximadamente sete minutos, de cerca de 2h04min para 2h11min - recorde mundial é de 2h04min53s, enquanto a melhor marca já obtida em uma Olimpíada é de 2h09min21s e dura desde os Jogos de 1984. Porém, obviamente Marilson não é nenhum super homem e também deve sofrer bastante com o problema chinês. “Como o percurso é quase todo plano, torna as coisas relativamente fáceis, mas estes fatores farão a prova ser dura. Eu nunca competi lá, mas me disseram que é muito complicado competir nestas condições. Vamos ter que nos superar”, avaliou Marilson, durante evento promovido por um de seus patrocinadores, o Grupo Pão de Açúçar. “A captação de oxigênio é muito importante na maratona. Só que esse ar tem que ter qualidade, senão altera o rendimento mesmo”, completou o treinador.
O jeito então é tentar minimizar os danos, o que será feito com um treinamento na altitude de Paipa (Colômbia) ou de Serra Nevada (Espanha) - a cidade ainda não foi definida. Isso porque em localidades mais altas, a dificuldade de se ingerir oxigênio também aumenta, reproduzindo, de certa forma, o que ocorre em cidades muito poluídas. “Na poluição, a gente também costuma sentir fadiga antes do previsto, mas o corpo precisa se adaptar a esta situação caótica. Por isso, vou treinar na altitude”, explicou o corredor.
“Parece brincadeira, mas não é: o simples fato de ele viver em São Paulo pode amenizar a questão da poluição”, continua o treinador, que também acredita que o treinador pode beneficiar o representante nacional com relação aos seus adversários. “Por mais que as condições sejam iguais para todos, as pessoas reagem de forma diferente. Por exemplo, se o Marílson correr no frio, ele sente mais que os outros. No calor, ele tem levado vantagem sobre o Robert Cheruiyot. Aí alguém pode perguntar: mas os africanos não vêm do calor? Até vêm, mas eles costumam treinar na Europa, no frio”, justificou.
Vencedor da São Silvestre em 2003 e 2005, além da prestigiada Maratona de Nova York em 2006, Marilson voltará a focar seus treinamentos na maratona, depois de passar as últimas semanas competindo em distâncias mais curtas (10 mil metros). Ele deve deixar o país no começo do mês de julho e pretende chegar à Ásia três semanas antes da disputa, de maneira a se acostumar com o fuso horário - até lá, a expectativa é que ele faça duas provas.

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